O período pós-parto é uma fase de intensa transformação e adaptação, tanto para a mãe quanto para o bebé e, no fundo, para a nova família. Durante esta etapa, a importância do autocuidado torna-se primordial, não apenas para a recuperação física da mãe, mas também para o seu bem-estar psicológico e emocional.
As mudanças e os desafios do pós-parto
Após o parto, o corpo da mulher passa por uma série de mudanças físicas e hormonais significativas. Além disso, os novos desafios emocionais e a responsabilidade de cuidar de um recém-nascido podem ser esmagadores. Reconhecer e aceitar essas mudanças é o primeiro passo para um autocuidado eficaz.
Após um longo período de gestação, seria justo que uma recém mãe, cansada dos últimos nove meses de gestação e do trabalho de parto, pudesse levar o seu novo bebé para casa e tranquilamente descansar. Porém, a natureza e - sejamos francos - alguma pressão social, ditaram que esta não seria a sua nova realidade. Por outro lado, existem algumas estratégias que poderão ser postas em prática para tornar o período pós-parto mais tranquilo para todos mas, acima de tudo, para a mãe e para o bebé.
Estratégias de autocuidado físico
No pós-parto, como em praticamente todas as fases da vida, há que cuidar de dentro para fora, tanto a saúde física como a saúde mental. Começamos pela física com as seguintes estratégias que poderão ajudar a trazer a certeza em como um corpo são dará também lugar a uma mente sã.
- Alimentação saudável: nutrir o corpo com uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, proteínas e grãos integrais, é crucial para a recuperação. A hidratação também é absolutamente essencial, especialmente para as mães que estão a amamentar.
- Exercício físico moderado: sem pressas e seguindo as recomendações do médico, atividades leves como caminhadas podem ajudar na recuperação física e na melhoria do humor (libertação de endorfinas).
- Descanso: o sono pode ser irregular com um recém-nascido em casa, mas tentar descansar sempre que possível é importante para a saúde física e mental.
- Cuidados com o corpo: práticas como banhos de assento e uso de compressas frias podem aliviar desconfortos físicos do pós-parto.
Apoio à saúde mental e emocional
Neste período tão importante na vida de uma mulher, fala-se muito de depressão pós-parto, que - infelizmente - é mais comum do que aquilo que se pode pensar. Com a causa frequentemente enraizada no aspeto mental, vejamos algumas ações que poderão ajudar nesse sentido.
- Tempo para si mesma: reservar momentos para atividades que promovam o bem-estar pessoal, como ler um livro ou tomar um banho relaxante, é fundamental. Ter um bebé recém-nascido não é motivo para se negligenciar. Lembre-se de que não estará sozinha; salvo exceções, terá o seu companheiro ou companheira e membros da família e amigos que terão todo o gosto em dividir os cuidados do bebé consigo. Não assuma todas as responsabilidades sozinha se não houver necessidade.
- Ligações sociais: manter contato com amigos, familiares ou grupos de apoio pode oferecer o suporte emocional necessário durante este período. É normal sentir vontade de “hibernar” durante algum tempo após o parto, mas tente não se isolar completamente.
- Ajuda profissional: não hesite em procurar um psicólogo ou psiquiatra se sentir sintomas de depressão pós-parto ou ansiedade. Não há qualquer motivo para se sentir mal em procurar ajuda profissional, especialmente nesta altura.
Como implementar o autocuidado na rotina pós-parto
- Planeamento e organização: estabelecer uma rotina diária que inclua tempo para o autocuidado, mesmo que sejam pequenos intervalos de minutos durante o dia.
- Delegação de tarefas: mais uma vez, aceitar ajuda de parceiros, familiares ou amigos para tarefas domésticas ou cuidados com o bebé pode proporcionar momentos de descanso e recuperação.
- Estabelecimento de prioridades: reconheça e aceite que não é possível fazer tudo e foque-se no que é essencial para o bem-estar da mãe e do bebé.
A importância de delegar tarefas no pós-parto
A bem da saúde física e mental dos novos pais, a capacidade de delegar tarefas emerge não apenas como uma estratégia de autocuidado, mas como uma necessidade vital para a saúde e bem-estar de ambos, mas essencialmente da mãe, naturalmente mais cansada após todo o período de gestação e após o esforço do parto. Neste momento de vulnerabilidade física e emocional, assumir todas as responsabilidades sozinha pode ser não apenas desafiante, mas também prejudicial à recuperação. Portanto, é essencial reconhecer o valor inestimável do apoio de parceiros, familiares e amigos.
Delegar tarefas pode envolver pedir a alguém para assumir responsabilidades domésticas, como cozinhar, limpar ou fazer compras, permitindo à mãe concentrar-se na sua recuperação e no cuidado e ligação afetiva com o bebé. Além disso, permitir que outros cuidem do recém-nascido em determinados momentos pode oferecer à mãe a oportunidade de descansar ou dedicar-se a atividades de autocuidado, como um hobby ou simplesmente dormir.
Esta prática não só ajuda a reduzir o stress e a prevenir o esgotamento, mas ajuda também a promover um ambiente mais equilibrado e saudável para todos os envolvidos.
Cuidados pós-parto pelo Mundo
A forma como a experiência do pós-parto é tratada e vivida depende muito do contexto sociocultural e geográfico em que os pais se inserem.
Por cá, é muito recorrente a crença de que tem que ser a mãe a acarretar com a maioria das responsabilidades após regressar a casa do hospital, logo ela a quem já tanto foi exigido.
Contrastando com esta postura, na Coreia do Sul, onde a palavra coreana para o período pós-parto é Samchilil, que significa "três semanas", as pessoas que dão à luz são frequentemente aconselhadas a descansar, evitar o frio e comer alimentos tradicionais, como a sopa de algas, que algumas pessoas consomem várias vezes ao dia. Embora tradicionalmente cuidadas nas suas próprias casas, as pessoas que dão à luz na Coreia têm agora a opção de sanhujoriwon, centros de cuidados pós-parto que oferecem um ambiente mais luxuoso e semelhante ao de um spa. Com um preço de cerca de 2,604€ a cerca de 4,338€ por duas semanas, as estadias nestas instalações incluem todas as refeições e cuidados infantis durante todo o dia e a noite, de forma que, quando não estão a amamentar, os novos pais possam descansar.
Já na Dinamarca, a saúde mental e o bem-estar são uma parte rotineira dos cuidados pré-natais, e as diretrizes nacionais incluem procedimentos definidos sobre como fornecer às mulheres grávidas informações para apoiar o seu bem-estar mental.
Neste país, o apoio psicológico para novas mães é tratado com grande seriedade, refletindo o compromisso do país com a saúde mental durante o pós-parto. O sistema de saúde dinamarquês está equipado para oferecer um apoio abrangente às mães que enfrentam depressão pós-parto ou ansiedade, iniciando com o rastreio precoce dessas condições. Este rastreio é realizado através de visitas domiciliares por enfermeiros de saúde pública ou durante consultas de acompanhamento pós-natal, garantindo que as mães recebam a atenção necessária o mais cedo possível. Além disso, o sistema de saúde fornece acesso a terapia e aconselhamento psicológico especializado, tanto individualmente quanto em grupo, permitindo que as mães discutam suas experiências e recebam o apoio necessário para enfrentar esses desafios.
“Tudo o que um bebé recém-nascido precisa, uma nova mãe também precisa. Sabemos que um recém-nascido precisa de ser aconchegado, sabemos que um recém-nascido precisa de uma fonte constante de alimentação, sabemos que um recém-nascido precisa de contacto visual, sabemos que um recém-nascido precisa de ser acalmado. Isso é tudo o que uma nova mãe precisa.”
- Kimberly Ann Johnson, fundadora da Magamama e autora de “O Quarto Trimestre.”
Conclusão
Especialmente em casais em que existe uma mãe e um pai, existe uma certa tendência social em atribuir à mulher a grande maioria da responsabilidade sobre o bebé, o que não é de todo justo. Não esqueça que o pai não é um mero ajudante: deve ser e provavelmente deseja ser uma parte essencial nos cuidados do bebé, tal como a mãe. Os únicos “trabalhos” que os pais do sexo masculino não podem desempenhar são o próprio parto e a amamentação, esta última tarefa tornando-se possível quando o bebé é alimentado exclusivamente a fórmula.
O autocuidado no pós-parto é uma etapa crucial para garantir uma recuperação saudável e promover o bem-estar emocional e físico da mãe. Adotar estratégias de autocuidado não é um ato de egoísmo, mas sim uma necessidade para que possa cuidar eficazmente do seu bebé. A chave é aceitar que pedir ajuda é normal, reconhecer as suas limitações e entender que cuidar de si mesma é tão importante quanto cuidar do seu filho. Este período de adaptação requer paciência, compreensão e, acima de tudo, muito amor e cuidado para com a mulher/mãe.
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