A gravidez é uma jornada única repleta de alegrias, expectativas e, naturalmente, muitas dúvidas. Desde os primeiros sinais até ao pós-parto, cada fase traz consigo desafios e questões específicas que podem suscitar ansiedade e curiosidade nas futuras mães e pais. Neste contexto, o acompanhamento por profissionais de saúde torna-se indispensável para garantir não só a saúde da mãe e do bebé, mas também para proporcionar serenidade e segurança ao longo de todo o processo.
Com o objetivo de esclarecer algumas das dúvidas mais comuns e discutir temas essenciais relacionados à gravidez, conversámos com a enfermeira Ana Garcês, enfermeira especialista em obstetrícia e CAM (Conselheira em Aleitamento Materno). Nesta entrevista, abordamos alguns tópicos comuns a todas as grávidas e recém-mamãs, desde o início da gestação ao pós-parto.
Como posso gerir os sintomas comuns da gravidez, como náuseas, cansaço e dores nas costas?
Ao longo da gravidez vão surgindo alguns sintomas. As náuseas e os vómitos podem afetar, por exemplo, 80% das grávidas.
Para melhorar as náuseas podemos fazer coisas simples como reforçar a hidratação (beber 8-12 copos de água por dia, mesmo quando não se tem sede), fazer refeições leves e fracionadas, evitar comidas muito pesadas e condimentadas e manter na mesa de cabeceira algumas bolachas de água e sal e comer uma ou duas ao acordar, porque muitas vezes os enjoos vêm porque se passou muito tempo sem comer! Devem também sempre informar o vosso médico, uma vez que este, se achar indicado, pode prescrever um medicamento antiemético que previne as náuseas e os vómitos.
Já o cansaço e o sono têm origem nas alterações hormonais e fisiológicas que o corpo da mulher começa a sofrer logo nas primeiras semanas de gravidez. E com o desenvolvimento do feto e o crescimento da barriga vem outro sintoma muito pouco simpático que são as dores nas costas. Para este a solução acaba por ser mais simples e direta: uma cinta que dê suporte à barriga. Têm muito boas opções no mercado!
Qual é a importância do pré-natal e como este pode influenciar no desenvolvimento da gravidz e na saúde do bebé?
Um pré-natal adequado é essencial para gerir a saúde e bem-estar da mãe e do recém-nascido, seja este feito no público ou no privado. O pré-natal permite a deteção precoce de patologias tanto maternas como fetais o que permite um desenvolvimento saudável do bebé e mãe, também reduzindo os riscos da grávida.
Existem alimentos ou atividades que devo evitar durante a gravidez?
Durante a gravidez (e até no pós-parto) não há necessidade de evitar nenhum tipo de alimento – a não ser a ingestão de bebidas alcoólicas. É importante manter uma alimentação saudável, rica em vitaminas e minerais e com boas fontes de proteína. Na grande maioria, as grávidas suplementam com ácido fólico e iodo para suprimir as necessidades inerentes à gravidez. Alguns médicos assistentes podem, conforme necessidades da grávida, sugerir a suplementação com complexos vitamínicos.
A atividade física na gravidez está associada a múltiplos benefícios, quer para a futura mãe quer para o bebé. Se a grávida tiver algum tipo de atividade física, pode mantê-la durante a gravidez se não existirem contraindicações médicas.
Como posso saber se estou a entrar em trabalho de parto? Quais são os sinais?
Com o aproximar do fim da gravidez acabamos por ficar mais alertas e tudo pode parecer motivo de ir a correr para a urgência obstétrica mais próxima. Os principais sinais de que o parto poderá acontecer nos próximos dias é a perda do rolhão mucoso e a rutura do saco amniótico.
Num verdadeiro trabalho de parto as contrações são regulares e seguem um padrão previsível (a cada oito minutos, por exemplo). As contrações passam por três progressões: progressivamente mais próximas, progressivamente mais longas e progressivamente mais fortes. Cada contração começa a ser sentida na região lombar e, em seguida, irradiando para a frente, na parte inferior da virilha e uma mudança na posição ou na atividade não diminui ou interrompe as contrações. Pode haver a perda do rolhão mucoso e a rutura do saco amniótico e ocorrem alterações cervicais que são avaliados pelo obstetra e/ou pela enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica.
Não é necessário ir para o hospital quando começam as primeiras contrações até termos a certeza que estão intervaladas e que já não é confortável para a grávida continuar em casa.
Quais são as diferenças entre parto normal, cesariana e parto com assistência (como o uso de fórceps ou ventosas?
Existem vários tipos de parto: do vaginal fisiológico, ao vaginal instrumentado à cesariana.
Um parto vaginal fisiológico é aquele que ocorre sem a utilização de instrumentos (como a ventosa e o fórceps) e conta só com a ajuda manual do obstetra ou da enfermeira especialista em saúde materna e obstétrica.
Um parto vaginal instrumentado é aquele em que tem de ser utilizado uma ventosa e/ou um fórceps para garantir que o bebé nasce em segurança. A utilização ou não de instrumentos é avaliada pelo médico assistente conforme o bem-estar da mãe, do bebé, da evolução do trabalho de parto e das condições físicas.
Uma cesariana é um parto cirúrgico que implica a ida a um bloco operatório (preparado para partos) e a extração cirúrgica do bebé. Pode também ter auxílio de ventosa e/ou fórceps.
Quais são as melhores formas de avaliar a dor durante o trabalho de parto?
Podem optar por meios farmacológicos ou não farmacológicos de controlo da dor.
Se formos pela via da analgesia destacam-se três técnicas: analgesia epidural que é realizada no início do trabalho de parto, e pode-se sempre ir aumentando a dosagem sempre que necessário, dá para ser utilizada tanto em partos vaginais como cesarianas; bloqueio subaracnoídeo que tem uma ação rápida mas não é aconselhável a repetição desta técnica caso seja necessário reforçar a analgesia e o bloqueio sequencial, que resulta na mistura das duas técnicas descritas anteriormente sendo de ação rápida e permitindo a introdução de mais analgesia conforme necessidade.
Se formos pelo caminho das formas não farmacológicas de controlo da dor temos a técnica de respiração e relaxamento de Lamaze, caminhar, utilização da bola de Pilates, tomar um duche quente, aromaterapia, e na verdade qualquer técnica que consigam usar e que vos vai fazer sentir confortáveis e relaxadas.
Como posso preparar-me para a amamentação e quais são os desafios comuns que posso enfrentar?
O principal é gerir as expectativas. Amamentar é uma montanha-russa e pode ter vários inícios, meios e fins. O ato de amamentar, para grande maioria das mulheres, é fisiológico e biológico, mas não é inato. E está tudo bem! Podem vivenciar qualquer cenário que pode acabar por desmotivar, mas com o apoio certo (CAM, IBCLC, suporte familiar, etc.) a amamentação tem tudo para ser bem-sucedida. O importante é a amamentação ser uma situação prazerosa para ambos (mãe e bebé) e não esquecer que é uma capacidade adquirida e requer treino!
Alguns desafios comuns que podem enfrentar passam por pega incorreta do recém-nascido à mama, fissuras e feridas nos mamilos, ingurgitamento mamário e processo de descida de leite.
Podem ter um início mais atribulado e, depois, quando a engrenagem começa a ficar bem oleada, corre tudo sem problemas, ou então podem ter um início sem grandes problemas e depois, gradualmente, começarem a apresentar dificuldades.
E se não conseguir/quiser amamentar? O meu bebé vai ter problemas de desenvolvimento?
Escolher ou não amamentar é uma escolha muito pessoal e cabe à grávida/puérpera tomá-la desde que seja de forma informada e consciente e que conheça os prós e contras de ambas as formas de alimentação do bebé: amamentação, aleitamento artificial ou aleitamento misto. Podem sempre falar com uma CAM ou uma IBCLC sobre este assunto de forma a esclarecerem todas as vossas dúvidas!
O mais importante é termos uma mãe e um bebé saudáveis, seja qual for a forma de alimentação escolhida. Há muitas opções disponíveis, quer para quem quer amamentar quer para quem não o quer fazer. É importante referir que um bebé amamentando em exclusivo vs. um bebé alimentado exclusivamente por leite artificial devem ser avaliados pelo pediatra por curvas de crescimento e desenvolvimento diferentes e que cada bebé, nas mesmas condições, pode desenvolver-se de maneira saudável, mas de formas e ritmos diferentes!
Quais são os cuidados necessários com o recém-nascido nas primeiras semanas após o parto?
Garantir que ele é alimentado, que mantém micções e dejeções (as dejeções dos recém-nascidos mudam muito nas primeiras semanas após o nascimento), que realizou o diagnóstico precoce entre o terceiro e o sexto dia de vida (o chamado “teste do pezinho”), que vai às consultas de pediatria para garantir que o desenvolvimento está adequado à idade e dar muito colo, carinho e mimos. Os bebés adoram contacto pele-a-pele, por isso aproveitem todos e quaisquer momentos para o fazer!
Como criar um ambiente propício ao sono do bebé?
O bebé precisa de um ambiente calmo e tranquilo para ter um sono adequado. Para garantir que o sono é seguro deve sempre dormir de barriga para cima, sem peluches, almofadas ou qualquer outro objeto no berço. Este deve também dormir sempre com os pés a tocar no fundo do berço. O berço não deve ser inclinado. Vestir o bebé com várias camadas de roupa é preferível à utilização de lençóis ou mantas. Também se podem utilizar sacos de dormir que se vestem, próprios para bebés. Não utilizar gorros, pelo risco de sobreaquecimento, exceto nas primeiras horas após o seu nascimento. Evitar exposição a álcool, tabaco ou outras drogas em torno do bebé. Garantir que o ambiente onde o bebé dorme é arejado e com uma temperatura sempre adequada entre 18-22 graus.
O que é a depressão pós-parto e quais são os sinais de que preciso buscar ajuda?
Enquanto o blues pós-parto é um quadro transitório e apresenta oscilações emocionais que podem ser amenizadas por fatores como descanso adequado e autocuidado, a depressão pós-parto é constante, persistente e interfere na funcionalidade da mulher. A depressão pós-parto é uma doença mental caracterizada por sinais prolongados de tristeza, perda de interesse em atividades diárias, ansiedade e irritabilidade. Os principais sintomas são tristeza extrema, choro incontrolável e frequente, oscilações do humor, irritabilidade e raiva e alteração da forma como se interage com o bebé (evitar dar colo, carinho, alimentar, interagir).
Como manter a saúde mental no pós-parto? Através do autocuidado: garantir que têm tempo para descansar, comer, tomar banho, fazer alguma coisa que vos faça sentir humanas e vocês mesmas; acionar uma rede a apoio para reduzir a sensação de sobrecarga; os grupos de mães são sempre bons porque há sempre alguém na mesma situação que nós.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde física. Por isso não hesitem em entrar em contacto com os profissionais de saúde para pedir ajuda e garantir um acompanhamento correto e especializado.
Nota de agradecimento à Enfermeira Ana Garcês pelas informações e dicas prestadas.
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