Com maior ou menor frequência e intensidade, que se correlacionam com a variabilidade individual, o processo de envelhecimento acarreta problemas relativamente comuns. Isto acontece porque há uma progressiva fragilização das nossas habilidades, quer em termos físicos quer cognitivos.
Embora pareça um cenário desanimador, atualmente envelhecer é uma condição mais estudada, amplamente abordada e isso permite, nomeadamente, um maior conhecimento sobre como podemos gerir os desafios nesta fase da vida. Como em muitas outras áreas, a prevenção é o melhor caminho, pelo que nada melhor do que estarmos preparados e informados para lidarmos com as situações de forma mais serena.
Quedas nos idosos
As quedas são uma causa frequente e preocupante de incapacidade e morte na população geriátrica. Com efeito, as quedas acarretam dano físico e também psicológico, conduzindo a uma diminuição da capacidade de realizar tarefas da vida diária e da mobilidade.
Vários estudos e revisões sobre a prevalência mundial de quedas apontam para valores médios de 26,5% em indivíduos com mais de 65 anos. Os dados referem mais exatamente que cerca de 1/3 das pessoas com mais de 65 anos que vivem na comunidade sofrem uma queda uma vez por ano, sendo que esta proporção aumenta em idosos institucionalizados. Acima dos 80 anos, o valor sobe para 50%.
No que se refere ao local habitual, a maioria das quedas ocorre em casa e os doentes tendem a não reportar ao seu médico, a não ser que delas resulte algum dano.
São vários os fatores que contribuem para a ocorrência de quedas, dos quais se destacam:
• Medicação, sobretudo sedativos, relaxantes musculares e medicamentos que baixam a pressão arterial e podem causar hipotensão ortostática (queda da pressão arterial quando a pessoa passa da posição de deitada para sentada ou em pé por dificuldade do sistema nervoso em ajustar a pressão);
• Doença ortopédica / reumatológica, tal como osteoartrite;
• Distúrbios do equilíbrio e da marcha, secundários a doença do ouvido interno ou do cerebelo;
• Fraqueza muscular;
• Sedentarismo;
• Utilização de auxiliares de marcha tais como bengalas e andarilhos, o que pressupõe dificuldades de mobilidade prévias;
• Alterações da visão;
• Doenças crónicas, sobretudo neurodegenerativas;
• Antecedentes de quedas (em parte, também por causa do medo de voltar a cair).
Consequências das quedas no idoso
Como já referido, os danos sofridos em resultado de uma queda são físicos e também psicológicos. As quedas diminuem a capacidade para realizar tarefas de vida diária, sendo que a maioria das pessoas mais idosas não volta ao nível funcional prévio. Às efetivas quedas associa-se o medo de voltar a cair, o que por sua vez leva a maior imobilidade, atrofia muscular, perda de força e aumento do risco de cair, gerando um ciclo vicioso.
Por outro lado, cerca de 5% das quedas resultam em fraturas, sobretudo dos membros inferiores, situações suscetíveis de exigir intervenção cirúrgica, hospitalizações e reabilitação prolongada.
Até 50% dos idosos que caem podem não ser capazes de se levantar sozinhos logo após a queda. Permanecer caído pode contribuir para complicações tais como rabdomiólise (síndrome que envolve lesão do musculo com rutura das fibras musculares), pneumonia, feridas e úlceras de pressão e desidratação.~
O que fazer em caso de quedas
Em primeiro lugar, quem sofreu uma queda ou tem um familiar que caiu, deve consultar o seu médico, mesmo que não exista dano aparente. Deve ser avaliada a possibilidade de ter distúrbios da visão e/ou do equilíbrio, fraqueza muscular e revista a medicação tendo em vista minimizar fatores que possam estar a aumentar o risco de nova queda. Também a densidade óssea e presença / ausência de osteoporose devem ser avaliadas, para evitar consequências mais graves das quedas. É importante reter, também, que todos os idosos e indivíduos com doenças neurodegenerativas devem ser regularmente avaliados para risco de quedas.
Manter atividade física regular ou fisioterapia no caso de ter alterações da marcha ou equilíbrio é essencial para reduzir o risco de queda. Também são frequentemente necessárias intervenções no domicílio, nomeadamente para rever a iluminação, eliminar obstáculos e tapetes, ter calçado adequado e dispositivos para apoio, nomeadamente na casa de banho.
Perante suspeita de episódios de perda de consciência ou se o doente tiver alguma doença neurodegenerativa, doença neuromuscular ou de equilíbrio, deve ser referenciado para uma consulta de especialidade. Doentes com quedas recorrentes exigem normalmente intervenções multidisciplinares, mas a boa notícia é que a maioria das quedas, bem como as suas consequências, podem ser evitadas se observados os cuidados referidos.
Síndromes Confusionais Agudas
Delirium ou quadro confusional
Um quadro confusional agudo ou delírium é, por definição, uma alteração aguda do estado mental na qual se verifica alteração do estado de consciência, ou seja, estão presentes sonolência, alterações da atenção e da perceção. Isto significa que o indivíduo pode estar desorientado no espaço e no tempo, lentificado, não conseguir expressar-se adequadamente e com alucinações ou ideias que não são reais. Também ocorrem frequentemente alterações do comportamento e agitação, ou, pelo contrário, lentificação e apatia extremos.
É uma situação grave, frequentemente fatal e que afeta cerca de 50% dos idosos internados. Pode ser prevenido em cerca de 30-40% dos casos, mas está associado a um aumento significativo da morbilidade e mortabilidade, particularmente na população idosa.
Causas mais frequentes de síndrome confusional
As causas mais frequentes de síndrome confusional são as doenças médicas, tais como infeções e fármacos (tanto por intoxicação como por abstinência). Potencialmente, qualquer infeção, incluindo respiratória, urinária, meningite ou sepsis, é suscetível de poder causar uma síndrome confusional. Outras doenças metabólicas, traumatismos, álcool e outros tóxicos, acidentes vasculares cerebrais, epilepsia e tumores, são também causas frequentes para esta síndrome.
Uma síndrome confusional é o mesmo que uma demência?
Não. Para o diagnóstico de demência (ver dossier neurodegenerativas), em que o indivíduo apresenta um declínio das funções cognitivas, está implícito que este tem de ter um nível consciência normal, ou seja, estar acordado para se poder fazer o diagnóstico. A maioria das demências neurodegenerativas têm um início insidioso e evoluem ao longo de meses ou anos, durante os quais há perda progressiva das capacidades cognitivas e de autonomia. Pelo contrário, as síndromes confusionais são geralmente agudas ou subagudas, com a incapacidade a surgir numa questão de horas ou dias.
Relação entre delírio e demência
As síndromes confusionais são muito mais frequentes em pessoas com demência ou doença neurodegenerativa do que em indivíduos saudáveis. Mais de 70% dos doentes com Doença de Alzheimer têm pelo menos um episódio confusional ao longo da evolução da doença. Na maioria dos casos, as causas mais frequentes são as mesmas que para indivíduos sem demência (infeções e fármacos), podendo, contudo, ter manifestações atípicas ou não relatar queixas, pelo que é necessário haver um elevado grau de suspeita e procurar ativamente uma causa.
A existência de uma demência prévia é o principal fator de risco para a ocorrência de um quadro confusional. Isto significa que, se a pessoa tiver uma demência conhecida e uma qualquer doença médica, fratura, ou tiver de ser internada por qualquer motivo, há uma muito maior probabilidade de vir a ter uma síndrome confusional. Por vezes, também uma simples mudança de circunstâncias de vida (ex: alteração de local ou casa nas férias), pode causar esta síndrome muito porque, na verdade, a síndrome confusional reflete um quadro de descompensação mental que tem na sua base situações de stress.
Autoria: Dra. Sofia Nunes Oliveira | Neurologista
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