É a mais conhecida e temida causa de demência. A doença de Alzheimer é responsável pela maioria das síndromes demenciais em todo o mundo. Com causa ainda por desvendar, atualmente não existe cura para esta doença, sendo apenas possível intervir ao nível do controle dos sintomas e atrasar a sua progressão.
Conhecer melhor a doença e apostar na prevenção em tempo útil são aspetos imprescindíveis na abordagem a este enorme problema de saúde, de perda de qualidade de vida, disrupção familiar e impactos socioeconómicos muito expressivos.
O que é
A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa do cérebro em que há morte de neurónios por inflamação e deposição de proteínas tóxicas, nomeadamente de beta-amiloide e proteína tau.
Nas fases iniciais, a morte neuronal tende a afetar zonas preferenciais do cérebro, em particular as que se relacionam com a aprendizagem de novos factos, pelo que as primeiras queixas são sobretudo um defeito de memória recente.
A causa da doença é desconhecida, sabendo-se, contudo, que pode estar presente até vinte anos antes dos primeiros sintomas.
A doença de Alzheimer não deve ser confundida com o envelhecimento normal, no qual o cérebro perde igualmente algumas capacidades, não evoluindo, no entanto, para demência.
Demência ou Doença de Alzheimer?
Esta questão consubstancia a mais antiga e instalada confusão em torno deste quadro. A doença de Alzheimer é a causa mais frequente de demência. A demência significa uma doença adquirida em resultado da qual há perda das funções nobres do cérebro como a memória, linguagem, cálculo, orientação e raciocínio, com alteração na capacidade para as atividades de vida diária, culminando na dependência de terceiros.
Não só a doença de Alzheimer como várias outras doenças podem causar demência, entre elas os acidentes vasculares cerebrais, outras doenças neurodegenerativas, tumores, traumatismos crânio-encefálicos e doenças médicas.
Factos e números
Não há números oficiais de demência em Portugal, mas estima-se que existam cerca de 193 000 doentes em Portugal com algum tipo de demência, dos quais cerca de 70% terão demência causada por doença de Alzheimer. No espaço europeu, a demência é uma das 10 principais causas de morte e uma importante causa de incapacidade, acarretando elevados custos sociais e económicos.
Sinais e sintomas
Os primeiros sinais e sintomas da doença podem ser subtis, pelo que a pessoa pode não se aperceber deles, a denominada “Anosognosia”, que é a incapacidade em reconhecer que se está doente. Conheça cinco sinais de doença de Alzheimer.
1.ESQUECIMENTOS DE FACTOS RECENTES
Um dos principais sinais é a incapacidade de fixar factos novos, como recados ou conversas. Por este motivo, a pessoa tende a esquecer-se do que lhe foi dito, de onde colocou determinado objeto ou de assuntos que tinha de tratar, mesmo que sejam importantes. No geral, nas fases iniciais, as memórias antigas estão preservadas.
2. ALTERAÇÕES DO HUMOR
A primeira manifestação de doença pode ser uma alteração do humor do tipo depressivo que inclui tristeza, apatia, perda de iniciativa, angústia e pessimismo. Isto é particularmente relevante em pessoas que não têm antecedentes de depressão e que manifestam estas queixas pela primeira vez depois dos 60 anos.
3. APATIA E DIMINUIÇÃO DA INICIATIVA
Pessoas com doenças neurodegenerativas em fase inicial, incluindo doença de Alzheimer, podem sentir uma diminuição da iniciativa e da capacidade de planear e executar tarefas, parecendo que “perderam interesse” em atividades que realizavam previamente.
4. ALTERAÇÃO DA LINGUAGEM
Embora nas fases iniciais da doença de Alzheimer as pessoas sejam perfeitamente capazes de comunicar existe, desde muito precocemente, uma redução na variabilidade do vocabulário que se torna progressivamente mais evidente. O discurso acaba por ficar mais pobre e limitado, à medida que a doença avança.
5. ALTERAÇÕES DA PERSONALIDADE
Em algumas pessoas, as mudanças no cérebro causadas pela doença levam a alterações da personalidade, na sequência das quais se verifica perda de interesse por atividades anteriormente desempenhadas com prazer e entusiasmo.
A par destes sinais e sintomas que se acentuam à medida que a doença progride, em estágios avançados há perda de outras capacidades, designadamente gestão da medicação, de recordar e realizar tarefas, orientação em locais menos familiares, culminando na dependência e acompanhamento constante por parte de terceiros.
Diagnóstico
O diagnóstico assenta em três fases principais:
1. Distinguir as alterações da memória do processo de envelhecimento normal.
2. Fazer o diagnóstico – se é uma causa neurodegenerativa ou se não existe outra doença como depressão, ou até uma doença médica tratável que explica as queixas. Nesta fase, é fundamental não deixar passar causas tratáveis de demência, de que são exemplos o hipotiroidismo ou patologia do sono. É a partir deste momento que o tratamento sintomático adequado poderá ser instituído.
3. Poderá ser necessário confirmar o tipo de doença neurodegenerativa. Embora os exames de rotina para estas situações confirmem o diagnóstico com uma elevada probabilidade, o aparecimento de novos medicamentos específicos para a doença de Alzheimer poderá exigir a demonstração da patologia beta amiloide por exames adicionais, nomeadamente estudo do líquido cefalorraquidiano e realização de PET cerebral e/ou estudos genéticos.
Tratamento
Atualmente, não existe cura para a doença de Alzheimer, estando apenas disponíveis medicamentos que tratam alguns dos sintomas e melhoram a evolução e qualidade de vida dos doentes e familiares. Em conjunto, a medicação e acompanhamento permitem antecipar e evitar complicações, o que se traduz numa ajuda importante para doentes e familiares, perante um cenário muito difícil.
Recentemente foi aprovado, nos Estados Unidos da América, o primeiro fármaco que, no seu mecanismo de ação, tem em consideração a biologia subjacente à doença e que tem o potencial para atrasar a progressão da doença. Este medicamento está indicado na doença de Alzheimer em fase precoce, com comprovada deposição de beta amiloide no cérebro, não estando, contudo, aprovado na Europa. Refira-se ainda que este tratamento não devolve a memória aos doentes prometendo, sim, atrasar a progressão e incapacidade.
Como ajudar o seu familiar
Tendo em conta que o familiar doente pode não reconhecer que o está, uma primeira ajuda poderá ser convencê-lo a procurar assistência médica. Na maioria das situações, não é vantajoso
confrontá-lo com as suas dificuldades, corrigir os seus erros ou irritar-se porque teve de repetir a mesma resposta. Não esquecer que estamos perante um defeito grave de memória, pelo que perguntar repetidamente a mesma coisa, porque não se lembra da resposta, é algo a que os familiares terão, infelizmente, que se habituar.
A par de procurar ajuda médica e de suporte, a melhor forma de ajudar o seu familiar é ser paciente, estimulá-lo a fazer todas as atividades que ainda for capaz de fazer com ou sem o seu auxílio e avaliar os riscos que corre, tornando o ambiente à sua volta mais seguro e mais adequado a uma pessoa com necessidades específicas.
É muito importante lembrar que, para cuidar de alguém com demência, é preciso cuidar de si próprio, assegurando que está saudável e mentalmente estável, de forma a poder prestar os melhores cuidados. PROCURE AJUDA.
Autoria: Dra. Sofia Nunes Oliveira | Neurologista