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13 passos para a prevenção da Doença Neurodegenerativa

​A intervenção farmacológica na patologia neurodegenerativa permite apenas controlar sintomas e atrasar o curso da doença, pelo que devemos apostar fortemente na prevenção. 


1. Vá à escola e puxe pela cabeça
O principal mecanismo protetor é a denominada reserva cognitiva, que é a capacidade que o cérebro tem de "encaixar" doença, ou seja, de sofrer um dano sem que este se traduza numa perda real de capacidade ou funcionalidade.

Quanto maior for a escolaridade, menor é o risco de demência, traduzindo tal a importância da educação e estimulação cognitiva no início da vida, com benefícios máximos até aos 20 anos de idade.

A estimulação cognitiva permite aumentar a reserva cognitiva e esse benefício mantém-se ao longo da vida, mesmo após os 60 anos. Pessoas com atividades profissionais mais exigentes e que se mantêm intelectualmente ativas até mais tarde, têm menor probabilidade de sofrer declínio cognitivo e um potencial para atrasar a perda de função cerebral em vários anos. 

Inúmeros estudos em que os indivíduos realizam treino cognitivo presencial ou remoto demonstram que há um claro benefício, sobretudo sobre algumas áreas especificas da cognição, nomeadamente a atenção e velocidade de processamento de informação.

2. Conviva, conviva, conviva!
Seja qual for o contexto, socializar é muito mais do que um fator de felicidade e de melhoria da qualidade de vida: é um fator de proteção do cérebro contra o declínio cognitivo. Viajar, eventos sociais, a capacidade de tocar um instrumento ou falar uma segunda língua parecem proteger da demência e atrasar o declínio cognitivo. De acordo com estudos, também parece existir uma correlação entre o facto de as pessoas viverem acompanhadas (seja cônjuge ou não) e uma menor probabilidade de sofrer declínio cognitivo, em face de uma maior interação e estimulação intelectual que tipicamente ocorrem.

Também o contacto com familiares, amigos e grupos comunitários são momentos que se traduzem em fatores protetores contra doenças neurodegenerativas e demência.

3. Mexa-se
A prática regular de exercício aeróbico tem um efeito protetor sobre o cérebro, diminuindo o risco de demência, protegendo de doenças específicas como a doença de Alzheimer. Além disso, o efeito benéfico sobre as capacidades cognitivas enquanto exercitamos, é imediato.

4. Não beba bebidas alcoólicas em excesso 
O álcool é um conhecido neurotóxico, suscetível de causar inúmeras doenças cerebrais. Apesar do possível efeito protetor cardiovascular pela ingestão de pequenas quantidades, é consensual que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas aumenta o risco de demência.
 
5. Deixe de fumar
O tabagismo aumenta o risco cárdio e cerebrovascular e tem um efeito indireto sobre o risco de sofrer de demência. Aparentemente, os malefícios do tabaco sobre o cérebro não se ficam por aqui, sendo que estudos mostram que parar de fumar, ainda que tardiamente, tem um efeito de redução do risco de declínio cognitivo.

6. Durma, pela sua saúde.
As alterações do sono são frequentes em doenças cerebrais, sendo simultaneamente causa e consequência de doença neurodegenerativa. Na doença de Parkinson, alterações do sono podem preceder, em várias décadas, o início dos sintomas de movimento e são também um dos principais sintomas não motores da doença. A insónia é igualmente um fator de risco para demência, devendo por isso ser investigada e tratada.

O sono parece ser fundamental para a eliminação das proteínas tóxicas que levam à morte dos neurónios nas doenças degenerativas, pelo que devemos investir num sono regular e de qualidade.

7. Coma bem e vigie o seu peso
A dieta mediterrânica é rica em fibras, tem baixo teor de gorduras e açucares e tem alto teor de ácido gordos ómega-3, o que a torna um fator associado à diminuição do risco de demência e declínio cognitivo. Por outro lado, a obesidade está consistentemente associada a aumento do risco de demência - em termos relativos, 1,3 - quando comparado com indivíduos com peso adequado. A perda de peso melhora imediatamente funções cognitivas, designadamente a atenção e a memória, podendo ainda diminuir o risco de defeito cognitivo futuro.


8. A diabetes e a demência 
A diabetes é um conhecido fator de risco vascular e de demência, significando isto que portadores de diabetes apresentam um risco relativo de 1.6, em comparação a um indivíduo não portador. Sobre a importância do tratamento adequado e do potencial de alguns dos medicamentos usados no tratamento da diabetes acarretarem benefícios para o cérebro, investigação em curso promete trazer resultados positivos.

9. Hipertensão arterial: atenção!
A hipertensão arterial (HTA) é um dos principais fatores de risco de dano cerebral e demência. O tratamento ideal pode reduzir significativamente o risco, não só de AVC mas também de demência e declínio cognitivo. Infelizmente, a HTA é muitas vezes silenciosa e assintomática, sendo que estudos mostram que, na maioria dos portadores, esta condição não está suficientemente bem controlada. O papel dos check-ups e da vigilância regular de saúde nestes casos é fundamental para reduzir os números de demência no futuro.

10. Depressão: diagnosticar, tratar e acompanhar 
A depressão é muito mais do que uma simples tristeza. Embora a sociedade esteja mais aberta e permeável ao diálogo, a depressão continua a estar associada a um enorme estigma social. Como consequência, por vezes com resultados nefastos, a maioria das pessoas portadoras de depressão não procura ajuda médica ou apresenta resistência a fazer qualquer tratamento. 

Todavia, a depressão é um conhecido fator associado a aumento de risco de demência, podendo ser a primeira manifestação de doença neurodegenerativa, sendo na verdade parte da própria doença e uma das suas componentes mais incapacitantes. O efeito da terapêutica atempada e do acompanhamento médico parece resultar numa melhoria da funcionalidade, da qualidade de vida e redução do risco de cronicidade e declínio cognitivo.

11. Cuidado com a poluição do ar 
A presença de tóxicos no ambiente está associada a aumento dos processos neurodegenerativos: doença cárdio e cerebrovascular, aumento da deposição de amiloide e da incidência de demência. Sendo uma circunstância que tende a não depender exclusivamente de nós e que pode escapar ao nosso controlo, o contributo individual para evitar a poluição é não só necessário como é também uma responsabilidade para com todos.

12. A surdez: “dê ouvidos” à sua audição
A hipoacusia (diminuição da audição) tem um risco relativo de demência de 1.9, ou seja, os indivíduos surdos apresentam quase o dobro da probabilidade para esta condição. Com efeito, parece haver uma relação linear entre a perda de cognição e cada 10dB de redução da audição e uma possível relação entre a atrofia do lobo temporal do cérebro - onde se situam importantes estruturas de memória - e a surdez. O uso precoce de prótese auditiva, quando indicada, parece traduzir-se num fator de proteção contra declínio cognitivo.

13. Traumatismo crânio-encefálico: cuidado com a cabeça 
Os traumatismos cranianos causam dano cerebral e aumentam o risco de demência e de doença neurodegenerativa, mesmo quando não há uma lesão óbvia do cérebro, na fase aguda do traumatismo. Por este motivo, é fundamental adotar medidas de proteção contra contusão cerebral, as quais são extremamente importantes na prevenção de demência.

Melhorar os mecanismos de proteção do nosso cérebro e diminuir fatores de risco, está ao nosso alcance, através de pequenos gestos e hábitos que são na realidade chaves simples, quotidianas, mas muito efetivas. 


Autoria: Dra. Sofia Nunes Oliveira | Neurologista
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