Agora, se fez uma consulta pré-concecional sabe o que fazer e o que vai acontecer. Se não leia este texto. Gravidez não é doença, por isso calma.
Marque uma consulta de obstetrícia para as seis ou sete semanas de gravidez (conte a partir do primeiro dia da última menstruação). Se não sabe a data da sua última menstruação consiga uma consulta o mais brevemente possível.
Inicie a toma de ácido fólico ou de um polivitamínico para a gravidez (estes são de venda livre), não pare nenhuma medicação que esteja a fazer a não ser que já tenha sido instruída para o fazer, deixe de fumar e outros consumos de substâncias nocivas, abstenha-se de bebidas alcoólicas, reduza a ingestão de cafeína e faça uma dieta saudável e equilibrada. Se não sabe a sua imunidade para a toxoplasmose, lave bem frutas e saladas, coma a carne bem passada e passe a limpeza da caixa do gato para outra pessoa.
A primeira consulta vai permitir confirmar a gravidez, datá-la e certificar que a gravidez está implantada no útero. Se realizada depois das 6 semanas de gravidez já vai poder ver o embrião e ouvir os primeiros batimentos do coração. Mas nem sempre temos ciclos menstruais perfeitos e facilmente pode ter menos uns dias ou mesmo semanas.
Durante a gravidez poderá ter entre 8 e 10 consultas, dependendo da evolução da gravidez, dos seus sintomas e dos resultados dos exames que lhe serão pedidos. São consultas que asseguram o curso normal da gravidez e monitorizam sinais importantes como o peso, a tensão arterial, o crescimento uterino, o foco e o bem-estar fetal. Não tenha receio de fazer perguntas. Muitas das suas queixas poderão ser “normais”, mas algumas poderão ser um sinal importante para o diagnóstico de uma patologia ou complicação.
Especialmente importante na vigilância da gravidez são as ecografias. Estas são realizadas por especialistas em ecografia fetal, certificados, e devem ser agendadas às 11-14 semanas (rastreio), 21-23 semanas (morfologia) e 30 e 36 semanas (avaliação de crescimento). Também as análises são feitas em períodos chave da gravidez permitindo seguir a saúde da mãe e a sua adaptação a este novo estado. Permitem também alguns rastreios.
A partir das 37 ou 38 semanas, as visitas ao seu obstetra passam a ser semanais. A maioria das complicações graves acontecem nesta fase e por isso realizará também um exame de cardiotocografia, que avalia a frequência cardíaca fetal e a contractilidade uterina, e uma ecografia para avaliar o líquido amniótico, a dinâmica fetal e, por vezes, estimar o peso do bebé.
RASTREIO DE ANEUPLOIDIAS
Quanto mais idade tem a grávida maior o seu risco de ter um feto com uma aneuploidia. As mais comuns são a trissomia 21 também conhecida por Síndroma de Down, a trissomia 18 e a trissomia 13. Como exemplo, enquanto aos 30 anos o risco de trissomia 21 ronda 1 em 625, aos 35 anos esse valor sobe para 1 em 240 e aos 40 anos para 1 em 52.
Existem dois rastreios comumente usados para deteção das aneuploidias mais comuns: o rastreio combinado do primeiro trimestre e a pesquisa de DNA fetal livre (cell-free DNA) na circulação sanguínea da mãe. Ambos são rastreios não invasivos.
1. O rastreio combinado do primeiro trimestre combina a história materna, o doseamento de β-hCG e PAPP-A, e um ou mais marcadores obtidos na ecografia do primeiro trimestre. Tem uma taxa de deteção que ronda os 90% e é realizado entre as 11 e as 14 semanas.
2. Já a pesquisa de DNA fetal livre na circulação materna permite uma taxa de deteção de Trissomia 21 de 99%. e pode ser realizado a partir das 10 semanas de gravidez. É, no entanto, um teste mais caro.
O diagnóstico é feito através de um exame invasivo (biópsia das vilosidades coriónicas ou amniocentese) para determinação do cariótipo do bebé. Este é um exame com uma taxa de deteção de aneuploidias de quase 100%, mas que se associa a um risco de perda fetal de 0,5% (1/200). Por essa razão é oferecido a grávidas cujo risco seja igual ou superior a este valor seja por um rastreio positivo ou porque se visualizou uma malformação fetal na ecografia.
RASTREIO DE PRÉ- ECLÂMPSIA
A pré-eclâmpsia é uma doença hipertensiva grave que coloca a vida da mãe e do feto em risco. O rastreio, realizado no primeiro trimestre, combina dados maternos (história clínica e idade, altura e peso), o índice de pulsatibilidade das artérias uterinas (medido na ecografia), o doseamento no sangue da mãe de PlGF ou de PAPP-A e a pressão arterial média da mãe. É realizado no primeiro trimestre e, se positivo, a grávida deve ser medicada com ácido acetilsalicílico 150 mg depois do jantar.
RASTREIO DA DIABETES GESTACIONAL
A diabetes gestacional atinge 10 a 15% das grávidas a nível mundial e implica o aumento do risco pré-eclâmpsia, recém-nascidos grandes para a idade gestacional e parto por cesariana, entre outros.
Em Portugal, o diagnóstico é feito de duas maneiras:
Em qualquer altura da gravidez através de uma glicémia em jejum igual ou superior a 92 mg/dl
Entre as 24 e 28 semanas, através de uma prova de tolerância à glicose oral, com 75g de açúcar, e com doseamentos antes, 1h depois e 2h depois da ingestão da solução açucarada. Para o diagnóstico basta um desses valores estar alterado.
RASTREIO DE COLONIZAÇÃO POR ESTREPTOCOCOS DO GRUPO B
O Estreptococos do grupo B é uma bactéria que coloniza o trato vaginal e gastro intestinal de 30 a 40% das grávidas. Embora esta colonização seja assintomática na grávida, pode causar uma infeção bacteriana grave no recém-nascido se presente durante o trabalho de parto. Por essa razão, todas as grávidas positivas entre as 35 e as 37 semanas de gravidez fazem profilaxia antibiótica durante o trabalho de parto. O rastreio é feito através de uma zaragatoa vaginal e retal.
E quanto às vacinas? Queremos as nossas grávidas protegidas contra o tétano, gripe e a Covid-19. Vacinamos ainda todas as grávidas, entre as 24 e 36 semanas, contra a tosse convulsa com o objetivo de proteger o recém-nascido até ele próprio ser vacinado.
Pois agora, quase no final da gravidez e já sem dúvidas, só tem de fazer as malas para o hospital e preparar-se para o parto. Estes são os 4 sinais de alarme de ida para a maternidade:
Menos que 10 movimentos fetais por dia
- Hemorragia vaginal
- Rotura de bolsa de águas
- Contractilidade dolorosa regular
E não se preocupe, o parto é o mais fácil, mas falamos disso em outro dia.
Autoria: Dra. Élia Fernandes | Médica especialista em Ginecologia-Obstetrícia
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